A cremação, um método ancestral de disposição dos mortos, tem uma história fascinante que remonta a milênios. Quando e como surgiu a cremação é uma pergunta que intriga muitos, levando-nos a uma jornada através do tempo e das culturas. Este processo, que transforma o corpo em cinzas, tem desempenhado um papel significativo em diversas sociedades, refletindo crenças, tradições e mudanças culturais ao longo dos séculos.
Neste artigo, vamos explorar as origens da cremação na antiguidade, seu ressurgimento na era moderna e como funciona o processo atualmente. Examinaremos também o impacto do cristianismo na prática da cremação e as mudanças culturais que levaram à sua aceitação crescente. Além disso, abordaremos aspectos práticos, como o tempo que demora uma cremação, o valor deste serviço e o que acontece com as cinzas após o procedimento. Prepare-se para uma viagem reveladora pela história e prática da cremação.
Origens da cremação na antiguidade
A cremação tem uma história que remonta a milênios, com evidências arqueológicas sugerindo sua prática desde tempos remotos. Acredita-se que o processo de cremação tenha se tornado proeminente por volta de 3.000 a.C., durante o período conhecido como Idade da Pedra Lascada. Pesquisas indicam que esta prática teve início na Europa e no Oriente Próximo, espalhando-se posteriormente para a Europa Setentrional durante a Idade da Pedra Polida.
Descobertas arqueológicas revelaram que a cremação já era praticada na China em épocas tão antigas quanto 8.000 a.C., embora a maioria dos especialistas concorde que sua popularização ocorreu posteriormente. À medida que as sociedades evoluíam, a prática da cremação se expandia. Durante a Idade do Bronze, o processo se disseminou para regiões como Espanha, Hungria, Itália, Portugal e Irlanda.
Prática na Grécia e Roma antigas
Na Grécia Antiga, a cremação ganhou destaque como parte integrante dos rituais funerários. Por volta de 1.000 a.C., os gregos adotaram a cremação como um dos principais métodos de sepultamento. Esta prática logo se estendeu aos romanos, que começaram a utilizar a cremação por volta de 600 a.C.
Na sociedade romana, a cremação e o enterro coexistiam como opções para o tratamento dos mortos. No entanto, durante o último século da República Romana, a cremação se tornou mais comum. No século I d.C., a prática da cremação era considerada a norma, enquanto o enterro e o embalsamamento eram vistos como costumes estrangeiros.
É interessante notar que, nas culturas antigas, a cremação era frequentemente associada a um destino nobre para os mortos. Em contraste, o sepultamento em túmulos era reservado para criminosos, assassinos e suicidas.
Suspensão durante o cristianismo primitivo
Com a ascensão do cristianismo, a prática da cremação sofreu um declínio significativo. A Igreja Católica se opôs fortemente à cremação, levando à sua suspensão por um longo período. Esta mudança foi atribuída à influência do cristianismo e das religiões de mistério.
Durante o período do Império Romano, o enterro aumentou em popularidade, substituindo gradualmente a cremação. No século 4 d.C., a cremação já era considerada uma prática do passado, pelo menos em Roma.
A suspensão da cremação durante o cristianismo primitivo teve um impacto duradouro nas práticas funerárias ocidentais. O sepultamento tornou-se o método predominante para o tratamento dos mortos, refletindo as crenças e valores da nova religião dominante.
É importante ressaltar que, apesar da oposição da Igreja Católica, a cremação nunca desapareceu completamente. Grupos como os Maçons, revolucionários e anarquistas continuaram a praticar a cremação como uma forma de reduzir a influência da Igreja Católica.
A história da cremação na antiguidade demonstra como as práticas funerárias estão intrinsecamente ligadas às crenças, culturas e mudanças sociais. Desde seus primórdios na Idade da Pedra até sua suspensão durante o cristianismo primitivo, a cremação desempenhou um papel significativo na forma como as sociedades antigas lidavam com a morte e honravam seus falecidos.
Ressurgimento da cremação moderna
O ressurgimento da cremação moderna teve início no final do século XIX, impulsionado pelo avanço tecnológico e o progresso dos meios de comunicação. Um marco importante nesse processo foi a invenção de uma câmara de cremação prática pelo professor Brunetti, da Itália. Ele apresentou seu modelo aperfeiçoado na Exposição de Viena de 1873, dando início a um movimento que se espalhou rapidamente pelos dois lados do Atlântico.
A criação de uma câmara crematória confiável foi resultado de anos de experimentação e desenvolvimento. O aprimoramento dessa tecnologia permitiu que a cremação se tornasse uma alternativa viável e não mais cara que o sepultamento tradicional. Isso despertou um maior interesse na história da cremação e em sua aplicação prática.
Um avanço significativo ocorreu em 1872, na Itália, quando foi criado o primeiro forno capaz de gerar uma temperatura alta o suficiente para cremar o corpo humano. Essa máquina revolucionária expandiu ainda mais a prática da cremação.
Expansão da prática na Europa e América
Com o desenvolvimento das câmaras crematórias, a cremação começou a se expandir pela Europa e América. Na Europa, o movimento foi patrocinado pelo cirurgião da rainha Victoria, Sir Henry Thompson. A preocupação pública com a higiene e saúde, além dos desejos clericais de reformar as práticas funerárias, impulsionou a abertura lenta de crematórios na Europa e no exterior.
Nos Estados Unidos, o primeiro crematório moderno foi estabelecido na Pensilvânia em 1876. Desde então, a prática tem crescido constantemente no país. Em 2015, o número de cremações nos Estados Unidos ultrapassou o número de sepultamentos, marcando uma mudança significativa nas práticas funerárias.
Na Europa, a expansão da cremação variou de país para país. Na França, por exemplo, a Société pour la Propagation de l’Incinération foi fundada em 1880, e o primeiro crematório francês foi construído em Paris, no cemitério Père-Lachaise. Concluído em dezembro de 1887, realizou a primeira cremação oficial em abril de 1889, logo após a aprovação da regulamentação da nova prática.
Na Itália, a cremação foi autorizada pelo Senado em 1873, embora o regulamento dos cemitérios, instituído no ano seguinte, apenas consagrasse o direito à cremação em casos excepcionais.
No Brasil, a cremação surgiu mais tardiamente. O primeiro crematório brasileiro foi inaugurado em São Paulo, na década de 1970. Mais especificamente, em 1974, o crematório de Vila Alpina em São Paulo tornou-se o primeiro da América Latina. Por muito tempo, foi o único no país, mas hoje existem mais de 100 crematórios no Brasil.
A expansão da cremação no Brasil e no mundo tem sido significativa nas últimas décadas. Fatores como mudanças culturais, preocupações ambientais e custos mais baixos têm contribuído para o aumento da popularidade da cremação. Além disso, a flexibilização da legislação e a aceitação por parte de diversas doutrinas religiosas também têm favorecido a difusão dessa prática.
O ressurgimento da cremação moderna representa uma mudança significativa nas práticas funerárias, refletindo transformações sociais, culturais e tecnológicas. À medida que mais pessoas optam pela cremação, essa prática continua a evoluir e se adaptar às necessidades e preferências da sociedade contemporânea.
Processo de cremação atual
O processo de cremação atual é um procedimento cuidadosamente controlado que envolve várias etapas, desde a preparação do corpo até o tratamento dos restos mortais. Este método moderno de disposição dos mortos tem ganhado popularidade devido à sua eficiência e menor impacto ambiental em comparação com o sepultamento tradicional.
Preparação do corpo
A preparação do corpo é o primeiro passo crucial no processo de cremação. Após o falecimento, o corpo é mantido em uma câmara fria a uma temperatura de 4ºC até o momento da cremação. Essa etapa é essencial para preservar o corpo e pode durar até 30 dias, dependendo da necessidade de documentação ou da demanda do crematório.
Antes da cremação, é realizada uma verificação importante: um profissional passa um detector de metais portátil na altura do peito do cadáver. Esse procedimento tem como objetivo identificar a presença de marcapassos ou outros dispositivos metálicos, que podem explodir devido às altas temperaturas do incinerador, comprometendo a segurança dos funcionários.
A família tem a oportunidade de realizar uma cerimônia de despedida, que pode incluir homenagens como discursos, orações, distribuição de flores ou velas, e exibição de vídeos ou músicas. Um coordenador ou assistente do crematório geralmente conduz a cerimônia, lendo textos escolhidos pela família e apresentando vídeos e fotos em um telão.
Incineração em alta temperatura
Após a cerimônia, inicia-se o processo de incineração propriamente dito. O corpo é transferido para a sala do forno crematório, onde são removidos todos os objetos pessoais, joias e dispositivos médicos. O caixão é então inserido na câmara de cremação, que é pré-aquecida a aproximadamente 600 graus Celsius.
Uma vez fechada a porta da câmara, o corpo é exposto a uma coluna de chamas intensas, com temperaturas que podem variar de 850°C a 1.200°C. O processo de cremação em si pode durar de 1 hora e meia a 3 horas, dependendo das características do corpo.
Durante esse período, o calor seca o corpo, queima e vaporiza os tecidos moles e músculos, e por fim, calcifica os ossos. O corpo humano médio leva de duas a três horas para que a cremação seja completamente realizada.
Tratamento dos restos mortais
Ao término da incineração, o que resta na câmara de cremação são cinzas e fragmentos de ossos. Esses restos passam por um processo de resfriamento antes de serem manipulados. Em seguida, os fragmentos ósseos são triturados em um processador de cinzas, uma máquina que os transforma em um pó fino e uniforme. Esse processo final de trituração geralmente leva cerca de 20 minutos 5.
O resultado final é uma substância com textura e cor semelhantes à areia fina. As cinzas resultantes podem pesar entre 1 a 3 kg, dependendo das dimensões e características do corpo cremado 5. É importante notar que as cinzas de cremação são, na verdade, fragmentos ósseos pulverizados, compostos principalmente de carbonatos e fosfatos de cálcio.
Após o processamento, as cinzas são colocadas em uma urna, que pode ser feita de diferentes materiais. As cinzas são entregues à família somente após 24 horas do processo de cremação 5. A família tem então várias opções para o destino final das cinzas, como sepultá-las em um cemitério, mantê-las em casa em uma urna, ou espalhá-las em locais significativos.
O processo de cremação atual é um método eficiente e ambientalmente mais sustentável em comparação com o sepultamento tradicional. Ele reduz significativamente o volume dos restos mortais e minimiza o impacto no meio ambiente. À medida que mais pessoas optam pela cremação, essa prática continua a evoluir, refletindo as mudanças nas atitudes culturais em relação à morte e aos rituais funerários.
Conclusão
A jornada pela história da cremação revela uma prática antiga que tem passado por altos e baixos ao longo dos séculos. Desde suas origens na Idade da Pedra até seu ressurgimento no século XIX, a cremação tem tido uma influência significativa nas práticas funerárias de diversas culturas. O desenvolvimento de tecnologias modernas e a mudança nas atitudes culturais têm levado a um aumento na aceitação da cremação como uma alternativa ao sepultamento tradicional.
Hoje em dia, a cremação é um processo bem estabelecido que envolve várias etapas, desde a preparação do corpo até o tratamento dos restos mortais. À medida que mais pessoas optam pela cremação, essa prática continua a evoluir para atender às necessidades e preferências da sociedade atual. A história da cremação nos lembra que as práticas funerárias são um reflexo das crenças, valores e avanços tecnológicos de cada época.
FAQs
- Qual é a história da cremação?
A cremação como conhecemos hoje é relativamente recente, com pouco mais de 100 anos de história. O primeiro registro do uso de uma câmara de cremação data de 1873 na Itália. Poucos anos depois, em 1878, as primeiras instalações crematórias foram estabelecidas na Inglaterra e na Alemanha. - O que a Bíblia menciona sobre a cremação?
A Bíblia não trata explicitamente da cremação. No Velho Testamento, não há proibições específicas sobre a cremação de corpos, nem há maldições ou julgamentos direcionados às pessoas que são cremadas. Existem, inclusive, referências a ossos sendo queimados. - Existem religiões que proíbem a cremação?
Sim, algumas das maiores religiões do mundo, como o judaísmo e o islamismo, não permitem a cremação. Essas tradições religiosas mantêm visões firmes contra a prática, considerando-a inapropriada mesmo com as mudanças culturais ao longo do tempo. - Por que a Igreja Católica prefere o sepultamento em vez da cremação?
Embora a Igreja Católica não veja impedimentos doutrinários à cremação, pois esta não afeta a alma nem impede a ressurreição do corpo pela onipotência divina, ela ainda prefere o sepultamento. Isso se deve ao fato de que o sepultamento demonstra uma maior estima pelos mortos, conforme explicado em documentos eclesiásticos.