Você já se perguntou como filmes sobre luto podem ajudar a aliviar a dor da perda? Perder alguém que amamos é uma das experiências mais difíceis que podemos enfrentar, deixando um vazio que parece impossível de preencher.
No entanto, as séries sobre luto e superação têm o poder de nos fazer sentir menos sozinhos nessa jornada. Quando assistimos séries que falam sobre a morte, encontramos personagens que espelham nossas próprias experiências, criando uma conexão terapêutica. Além disso, produções que retratam o luto com sensibilidade oferecem diferentes perspectivas sobre como lidar com o vazio deixado por quem se foi. Certamente, séries emocionantes sobre perda podem proporcionar palavras de conforto quando não conseguimos expressá-las.
Por isso, selecionamos 5 filmes e séries que abordam o luto de forma profunda e autêntica. Cada produção oferece uma visão única sobre o processo de despedida, dor e, eventualmente, cura. Seja através do humor ácido de “After Life” ou das complexas relações familiares em “This Is Us”, estas histórias podem se tornar poderosos aliados no seu processo de cura emocional em 2025.
Na televisão atual, poucas produções abordam o tema do luto com tanta honestidade quanto “After Life”. Esta série britânica de comédia dramática, criada, dirigida e protagonizada por Ricky Gervais, estreou na Netflix em março de 2019 e rapidamente conquistou o público com sua abordagem crua e sincera sobre a perda.
Enredo de After Life
“After Life” narra a história de Tony Johnson, um jornalista que trabalha no “Tambury Gazette”, um pequeno jornal local. Após perder sua esposa Lisa para o câncer de mama, Tony se transforma em uma pessoa completamente diferente. Deprimido e com tendências suicidas, ele contempla tirar a própria vida, mas decide continuar vivendo apenas para “punir o mundo” pela morte de sua esposa.
Tony adota uma postura de brutal honestidade, dizendo e fazendo o que bem entende sem se importar com as consequências. Ele se torna impulsivo e imprudente em sua atitude, expressando sua raiva e frustração sem filtros. No entanto, seu plano é prejudicado quando as pessoas ao seu redor tentam transformá-lo em uma pessoa melhor. Seu único consolo inicial é Brandy, sua fiel cachorra, que se torna um motivo para continuar vivendo.
Como After Life retrata o luto
O diferencial de “After Life” está na forma como retrata o processo de luto sem romantizá-lo. A série captura com precisão os estágios caóticos desse processo, desde a negação e raiva até, eventualmente, aceitação e esperança. Tony frequentemente assiste a vídeos caseiros de Lisa, buscando conforto nas memórias do passado feliz que não voltará mais.
Além disso, a série explora o que Gervais chamou de “o mais longe, mais dramático, sombrio e intransigente” que já foi em sua carreira. A compreensão detalhada do luto é incrivelmente precisa, com a dor do protagonista transbordando pela tela de forma palpável.
O humor ácido e o sarcasmo de Tony funcionam como mecanismos de defesa, criando uma fina camada cômica que logo dá lugar às questões emocionais mais profundas. A série não propõe soluções fáceis para superar a perda, mas mostra como pequenas conexões humanas podem ajudar a encontrar um novo propósito para seguir em frente.
Um elemento crucial na jornada de Tony é sua amizade com Anne, uma viúva que ele conhece no cemitério. Através dessas conversas no banco do cemitério, Tony começa a encontrar algum conforto e perspectiva em sua dor compartilhada.
Destaques do elenco de After Life
O elenco de “After Life” contribui significativamente para o impacto emocional da série. Ricky Gervais entrega uma performance impressionante como Tony, equilibrando momentos de humor ácido com vulnerabilidade genuína. Sua atuação captura perfeitamente a complexidade emocional de alguém lidando com uma perda devastadora.
Kerry Godliman interpreta Lisa, a falecida esposa de Tony, que aparece apenas em vídeos e flashbacks, mas cuja presença é sentida em toda a série. Outros destaques incluem:
Penelope Wilton como Anne, a viúva que Tony conhece no cemitério
Ashley Jensen como a enfermeira do pai de Tony
Tom Basden como Matt, cunhado e chefe de Tony
Tony Way como Lenny, colega de trabalho
Diane Morgan como Kath, outra colega no jornal
A série recebeu críticas positivas, obtendo uma taxa de aprovação de 71% no Rotten Tomatoes, com críticos elogiando especialmente a performance de Gervais. Um consenso crítico destacou que “After Life oscila entre o humor negro e o drama afetivo, mas o desempenho comovente de Ricky Gervais revela novas faces do talento do ator”.
Como comentou um crítico da Forbes, “No geral, After Life é uma série que merece ser conferida. É o projeto de Ricky Gervais que as pessoas imploram há muito tempo.”
A aclamada série americana “This Is Us” revolucionou a forma como o luto é retratado na televisão desde sua estreia em 2016. Criada por Dan Fogelman, a produção conquistou corações ao redor do mundo e foi indicada a impressionantes 39 Emmys ao longo de suas seis temporadas.
Enredo de This Is Us
A narrativa de “This Is Us” gira em torno da família Pearson, explorando suas histórias através de três linhas temporais diferentes. Rebecca e Jack são um casal esperando trigêmeos em Pittsburgh. No entanto, durante o parto, um dos bebês não sobrevive. No mesmo dia, um recém-nascido negro é abandonado em um corpo de bombeiros e levado ao mesmo hospital. Jack e Rebecca, determinados a levar três bebês para casa, decidem adotá-lo.
A série segue os irmãos Kate, Kevin e Randall na idade adulta, enquanto suas vidas se entrelaçam com flashbacks do passado familiar. Kate luta contra problemas de peso e autoestima, Kevin busca significado em sua carreira de ator, e Randall, o filho adotivo, lida com questões de identidade e ansiedade.
O diferencial da produção está na forma como transita pelo tempo dos personagens em diferentes etapas da vida, permitindo que o espectador compreenda como as vivências do passado afetam o presente e até mesmo o futuro deles.
Como This Is Us aborda a perda familiar
A morte do patriarca Jack Pearson é um dos eventos centrais que molda toda a narrativa de “This Is Us”. A série retrata com sensibilidade o impacto devastador dessa perda em cada membro da família, mostrando como cada um processa o luto de maneira singular.
A forma como a série trata a morte não é grandiloquente, mas natural e realista, o que a torna ainda mais dolorosa e relacionável para o público. Jack se sacrifica por amor à família, e a cena em que Rebecca recebe a notícia de sua morte é um dos momentos mais impactantes da produção.
Além da perda de Jack, a série explora outros lutos ao longo das temporadas:
A perda da identidade quando Randall finalmente encontra seu pai biológico
O luto antecipado quando Rebecca é diagnosticada com Alzheimer
A morte da mãe de Jack, mostrando como ele processa essa perda
No entanto, “This Is Us” não se limita apenas a mostrar a dor da perda. A série também demonstra como é possível encontrar força para seguir em frente, como Rebecca faz ao engolir sua tristeza para cuidar dos filhos após a morte de Jack.
Reflexões emocionais em This Is Us
“This Is Us” nos convida a refletir sobre a importância dos vínculos para nosso desenvolvimento emocional. A série mostra como somos profundamente marcados por acontecimentos traumáticos, mas também como podemos ressignificá-los.
Um aspecto marcante é a exploração da dicotomia da existência, como expressa por Randall: “De um lado alguém amado morrendo; do outro, alguém amado gestando uma vida”. Essa perspectiva ilustra como o luto não é apenas sobre a perda, mas também sobre a continuação da vida.
A série também aborda com profundidade como o tempo afeta nossa saúde mental. Viver excessivamente ancorado no passado pode levar à melancolia, enquanto a ansiedade excessiva sobre o futuro pode roubar a alegria do presente. Através da narrativa entrelaçada em três tempos, somos levados a questionar o que realmente importa em nossas vidas.
Entre as frases marcantes que capturam a essência da série está: “Você pega o limão mais azedo que a vida te deu e o transforma em uma bela limonada”. Dita pelo Dr. K após uma tragédia na família Pearson, essa frase resume a mensagem de resiliência que permeia toda a obra.
“This Is Us” não romantiza o luto, mas o retrata como parte integral da jornada humana. A série nos ensina que, mesmo nas perdas mais dolorosas, podemos encontrar força para seguir em frente, honrando a memória daqueles que amamos e transformando nossa dor em algo significativo.
Entre as produções que lidam com a morte de forma inovadora, The Good Place se destaca por sua abordagem única e filosófica. Criada por Michael Schur e exibida entre 2016 e 2020, a série conquistou público e crítica ao combinar humor inteligente com reflexões profundas sobre a vida após a morte.
Enredo de The Good Place
A trama começa quando Eleanor Shellstrop (Kristen Bell) acorda no “Lugar Bom”, uma utopia seletiva semelhante ao paraíso, projetada pelo “arquiteto” Michael (Ted Danson). Eleanor logo percebe que foi enviada para lá por engano e precisa esconder seu comportamento moralmente imperfeito. Junto dela estão Chidi Anagonye (William Jackson Harper), um professor de filosofia moral indeciso; Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil), uma filantropa elegante; e Jason Mendoza (Manny Jacinto), um DJ da Flórida disfarçado de monge. Completando o grupo está Janet (D’Arcy Carden), uma inteligência artificial com todo o conhecimento do universo.
Filosofia e pós-vida em The Good Place
A série utiliza teorias filosóficas diferentes em cada episódio para explorar questões morais essenciais. Conceitos como o Imperativo Categórico de Kant, o Utilitarismo e o famoso “Dilema do Bonde” são apresentados de forma acessível e bem-humorada. Através do personagem Chidi, a série aborda pensadores como John Locke, Tim Scanlon e Peter Singer.
Ademais, The Good Place propõe uma visão da pós-vida que desafia concepções tradicionais. A premissa inicial evolui para mostrar que a existência da morte dá sentido à vida e que a moralidade ajuda a guiar esse sentido. Como dito por Aurelio Arteta Aísa: “A autoconsciência da morte dá sentido à vida”.
Por que The Good Place é reconfortante
O diferencial da série está em como ela trata temas pesados com otimismo e intimidade. Ao invés de respostas, ela oferece perguntas fundamentais para seguirmos em frente, tudo com leveza, humor e reflexão.
Sobretudo, o programa evita o cinismo em favor de personagens agradáveis e mensagens positivas sobre a natureza humana. Como James Poniewozik do New York Times explicou, o mais revigorante sobre The Good Place é “seu otimismo sobre a natureza humana” e a noção de que as pessoas são “resgatáveis”.
No final, a série se torna um canto de reconciliação entre vida e morte, mostrando que mesmo no luto podemos encontrar significado e conexão humana.
Com uma abordagem ousada sobre mortalidade, a série The Big C se distingue entre as produções que retratam o luto com sensibilidade ao explorar o câncer terminal com uma mistura única de drama e humor negro. Exibida pelo canal Showtime entre 2010 e 2013, a série trouxe um olhar inovador sobre como enfrentamos nossa própria finitude.
Enredo de The Big C
A trama acompanha Cathy Jamison (Laura Linney), uma professora de ensino médio em Minneapolis que recebe o diagnóstico de melanoma maligno em estágio avançado. Inicialmente, ela esconde a doença do marido Paul (Oliver Platt), do filho adolescente Adam (Gabriel Basso) e de seu irmão Sean (John Benjamin Hickey), que vive como sem-teto. No começo, Cathy adota uma postura impulsiva, construindo uma piscina no quintal, gastando suas economias e até tendo um caso extraconjugal. Sua única confidente é Marlene, uma vizinha idosa com Alzheimer.
Estágios do luto em The Big C
A genialidade da série está na estrutura das quatro temporadas, cada uma representando diferentes estágios do luto conforme descritos pela psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross. Cathy passa pela negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, aceitação da morte iminente. Na primeira temporada, vemos sua negação e comportamento impulsivo. Nas temporadas seguintes, ela oscila entre buscar tratamentos alternativos (barganha) e enfrentar a realidade de sua condição, culminando na aceitação durante a temporada final, intitulada “Hereafter”.
Além disso, a série explora como cada pessoa ao redor de Cathy processa o luto antecipado de maneiras distintas. O marido Paul, o filho Adam e o irmão Sean desenvolvem seus próprios mecanismos para lidar com a perda iminente.
Transformações pessoais em The Big C
Durante sua jornada, Cathy evolui de uma mulher controlada e comedida para alguém que vive plenamente cada momento. Ela estabelece novas conexões, como com Lee (Hugh Dancy), outro paciente com câncer, e desenvolve uma nova perspectiva sobre a vida.
Portanto, o diferencial da série está em como ela não romantiza a doença terminal, mas mostra as complexidades emocionais com honestidade e, por vezes, com humor ácido. Na temporada final, vemos Cathy aceitando sua mortalidade, focando em garantir que sua família esteja preparada para seguir em frente após sua partida.
Finalmente, The Big C se destaca entre as séries emocionantes sobre perda por sua coragem em abordar diretamente a morte, sem sentimentalismo exagerado, mas com profunda humanidade.
Disque Amiga para Matar
Disque Amiga para Matar apresenta uma das mais autênticas representações do luto através da lente do humor ácido na televisão contemporânea. Essa “traumédia”, como foi apelidada pela própria equipe, estreou na Netflix em maio de 2019 e rapidamente conquistou o público com sua abordagem sincera e por vezes perturbadora sobre a perda.
Enredo de Disque Amiga para Matar
A trama acompanha Jen (Christina Applegate) e Judy (Linda Cardellini), duas mulheres na faixa dos 40 anos que se conhecem em um grupo de apoio para pessoas em luto no sul da Califórnia. Jen, uma corretora de imóveis durona, perdeu o marido Ted em um atropelamento, enquanto Judy, uma pintora sonhadora, chora a morte do noivo. No entanto, o final do primeiro episódio revela que Judy dirigia o carro que matou Ted, estabelecendo uma dinâmica complexa entre as personagens.
Luto e amizade feminina na série
A série se destaca pela forma como retrata a amizade que floresce em meio à tragédia. Jen e Judy permitem uma à outra sentir o que precisam sentir, criando um vínculo profundo. Como explicou Applegate: “Nada deprime mais uma pessoa de luto que outras tentando fazer com que ela pare de sentir o que está sentindo. Essa compreensão e fraternidade são laços que não podem ser rompidos”.
A série também aborda questões de saúde feminina com franqueza, incluindo aborto espontâneo, perimenopausa e mastectomia preventiva – esta última inspirada na própria experiência de Christina Applegate como sobrevivente de câncer de mama.
Tom ácido e humor como válvula de escape
O que diferencia Disque Amiga para Matar é sua capacidade de transitar abruptamente entre comédia, drama e thriller. A série utiliza o humor negro como forma de processar o trauma, criando momentos de alívio cômico em meio à dor. Como resumiu Linda Cardellini: “Apelidamos a série de ‘traumédia’ porque nela há muitos traumas, e aí entra o humor para aliviar as tensões e o estresse”.
Essa abordagem reflete a realidade do processo de luto, onde chorar e rir podem coexistir. Applegate complementa: “Assim é a vida: sombria, sinuosa, engraçada”. A série celebra como, mesmo nas circunstâncias mais trágicas, podemos encontrar conexões humanas genuínas que nos ajudam a seguir em frente.
Conclusão
Assistir produções sobre luto certamente representa uma forma poderosa de processar nossas próprias perdas. Cada uma das séries e filmes apresentados oferece um olhar único e profundo sobre diferentes aspectos do processo de luto. “After Life” nos mostra, através do humor ácido, como a dor pode ser transformada em um novo propósito. “This Is Us”, por sua vez, retrata como a perda familiar molda gerações inteiras, enquanto “The Good Place” aborda questões filosóficas sobre a morte com uma perspectiva otimista e reconfortante.
Além disso, “The Big C” nos ensina sobre os estágios do luto antecipado e como aproveitar o tempo que nos resta. “Disque Amiga para Matar” demonstra como amizades inesperadas podem florescer mesmo nas circunstâncias mais dolorosas, utilizando o humor como válvula de escape para o trauma.
A beleza dessas produções reside no fato de que, embora o luto seja uma experiência universal, cada pessoa o vivencia de maneira única. Portanto, ter acesso a diferentes perspectivas e abordagens sobre o tema ajuda a encontrar caminhos diversos para a cura emocional. Essas histórias nos lembram que não estamos sozinhos em nossa dor.
Sem dúvida, o poder terapêutico de ver personagens passando por situações semelhantes às nossas não deve ser subestimado. Essas narrativas funcionam como espelhos que refletem nossas experiências, dando nome aos sentimentos que muitas vezes não conseguimos expressar.
A jornada do luto raramente segue uma linha reta. Contudo, essas produções nos mostram que, apesar da dor, existe espaço para reconstrução, conexão humana e até mesmo para momentos de leveza. Afinal, assim como a vida, o luto é complexo – cheio de altos e baixos, lágrimas e risos, desespero e esperança.
O ano de 2025 pode marcar o início da sua jornada de cura através dessas histórias poderosas. Permita-se sentir, chorar e, eventualmente, encontrar conforto nas experiências compartilhadas por esses personagens que, mesmo fictícios, refletem verdades profundamente humanas sobre como seguimos em frente após a perda.